Continuação da série sobre a explicação da origem da moeda, evolução dos meios de pagamentos e o padrão monetário atual. Caso não tenha lido o primeiro texto da série, Surgimento das trocas voluntárias, clique no link especificado e conheça mais sobre o surgimento do comercio. O texto explica de maneira bem simplificada como as trocas voluntárias surgiram para resolver o problema da distribuição de riqueza gerada por diferentes indivíduos.
Surgimento da moeda
Conforme abordado no último texto da série, cujo link está referenciado logo acima, a solução encontrada para a distribuição de riquezas entre os indivíduos foi a realização de trocas voluntárias. Vimos também que as trocas voluntárias geram outros dois problemas: (I) A aceitação de suas mercadorias como troca para algo que você precisa. (II) A formação de carteis para manipular o preço.
Hoje falaremos sobre a solução encontrada para o primeiro problema, já o segundo problema será abordado em um post futuro, quando terminar a série sobre a evolução da moeda e dos meios de pagamento.
Bens de ampla aceitação
Voltando ao problema (I): A necessita de algo cuja propriedade é do indivíduo B, mas o indivíduo B não necessita de nada da propriedade do indivíduo A. Uma solução possível seria entender o que B precisa e procurar um indivíduo C que disponha desse bem e que queira um produto de A, realizar uma troca voluntária com C. E com a mercadoria adquirida de C, A poderia realizar uma troca voluntária com B e finalmente conseguir o bem ou serviço que ele queria desde o começo.
Você deve ter percebido aqui, que apesar de resolver o problema de A, este esquema é muito trabalhoso, e pode resultar em aumento da complexidade do problema inicial. Imagine que C tenha o produto para B, mas C também não quer nada de A, e agora? A terá que encontrar um indivíduo D tenha algo que C quer? E se D também não quiser nada de A? Até onde pode ir essa cadeia de eventos? De fato, quanto maior e mais complexo o comércio, mais complicada é a realização de trocas voluntarias diretas de mercadorias bens ou serviços (escambo), como por exemplo trocar 1 Kg de feijão por uma dúzia de ovos.
Tendo isso em mente, a solução encontrada pelos indivíduos para esse problema é bem elegante. Os indivíduos começaram a trocar seus bens ou serviços por bens de maior aceitação possível, isto é, bens cuja a chance de alguém recusar é bastante reduzida. Surge então a moeda. O dicionário Priberan define moeda como:
mo·e·da |é|
(latim moneta, -ae)
"moeda", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/moeda [consultado em 15-01-2016].
(latim moneta, -ae)
substantivo feminino
1. [Economia ] Meio pelo qual são .efetuadas .transações monetárias.
2. Peça metálica de dinheiro cunhado, geralmente com formato circular.
3. Unidade monetária que está em vigor em determinada região ou país.
4. [Figurado] Qualquer coisa que serve como meio de troca.
5. [Antigo] [Numismática ] Antiga moeda portuguesa, com o valor de 4800 réis.
"moeda", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/moeda [consultado em 15-01-2016].
Atente-se para as definições 3. e 4. usaremos muito aqui.
Já houve várias mercadorias usadas como moeda na antiguidade, o sal (que originou a palavra "salário"), gado (que originou a palavra "pecuniário", que vem do latim "pecus", que significa rebanho), etc.
Porém usar estas mercadorias como meio de troca comum propicia outros problemas. Primeiramente a questão do transporte. Quanto maior e mais complexo é o comercio, mas dificilmente será os indivíduos usarem mercadorias de grande volume e peso para trocas corriqueiras, como por exemplo um boi.
Outro problema é a questão da durabilidade, cada vez mais os indivíduos começaram a utilizar a moeda como reserva de valor, isto é estocá-la, para usá-la em tempos difíceis. Ou economizá-la por um tempo para no futuro realizar um investimento maior. Porém muitas mercadorias usadas como moeda poderiam ser perdidas, roubadas ou estragarem com o passar do tempo. Bois e vacas podem morrer, podem ser roubados no pasto, etc.
Mais um problema encontrado é a questão da divisibilidade, eu tenho um boi e quero comprar um pão, como fazer? Posso matar um boi e dar um pequeno pedaço, mas isso me obrigará a realizar trocas voluntárias com o resto do boi pois logo a carne poderá estragar.
Agora vem um dos maiores problemas de todos, que passa despercebido por um tempo, mas que ameaça destruir todo o sistema: a inflação. O dicionário Priberam define inflação como:
in·fla·ção |flà|
(latim inflatìo, -onis, inchação, tumor)
"inflação", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/infla%C3%A7%C3%A3o [consultado em 15-01-2016].
(latim inflatìo, -onis, inchação, tumor)
substantivo feminino
1. Hábito ou efeito de inflar. = INCHAÇÃO
2. [Economia ] Desequilíbrio .econômico caracterizado por uma alta geral dos preços e que provém do excesso do poder de compra da massa dos consumidores (particulares, empresas, Estado) em relação à quantidade de bens e de serviços postos à sua disposição. ≠ DEFLAÇÃO, DESINFLAÇÃO
3. Carestia resultante desse desequilíbrio.
4. Aumento excessivo.
5. [Figurado] Vaidade; orgulho.
"inflação", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/infla%C3%A7%C3%A3o [consultado em 15-01-2016].
Peço que atentem para os significados 2. e 3. que também serão vistos frequentemente nesse blog.
Imagine a seguinte situação, o sal é a moeda corrente de uma sociedade, é aceito por todos, como já aconteceu. Um comerciante, que fabrica pão pode se sentir tentado a deixar a profissão de padeiro e começar a produzir sal. Com o aumento de produtores de sal, alem de aumentar naturalmente sua oferta, pode facilitar a criação de novos meios mais fáceis de produzir o bem, aumentando ainda mais a sua oferta. Com o aumento da oferta de sal e a redução da oferta dos demais bens, devido a migração dos produtores, o sal perde totalmente seu valor de troca pois seria necessária uma quantidade gigantesca de sal para se comprar um pãozinho. Com isso sua aceitação como moeda corrente diminui. Percebe-se que uma boa moeda tem que ser difícil de produzir para que não perca valor.
Então pelo que verificamos até aqui, uma mercadoria candidata à moeda corrente deve possuir algumas características que são necessárias ao seu sucesso no longo prazo, são elas: aceitação, divisibilidade, durabilidade, portabilidade e escassez.
Na antiguidade surgiram fortes candidatos a moedas correntes, os metais preciosos. Destacando-se o Ouro e a Prata. Dentre os dois metais, o Ouro é ainda mais valioso por ser ainda mais escasso que os demais e por sua beleza e maior durabilidade também.
Estes metais possem as características essenciais ditas anteriormente:
Aceitação: Eram utilizados em diversas aplicações, pois são muito maleáveis e bonitos. Muito usados na confecção de joias e adereços.
Divisibilidade: Pepitas de ouro ou prata podem ser divididas em quantidades menores sem perder o seu valor como um todo. Ou seja, 10 pedaços de 25 gramas têm no total o mesmo poder de troca que uma pequena barra de 250 gramas. Com o passar do tempo determinadas características que se queria ressaltar, como peso e pureza, eram escritos nos pedaços de ouro, por meio e de um processo chamado cunhagem, onde uma fôrma contendo as especificações era prensada na peça de ouro ou prata com pancadas de um martelo. O processo de cunhagem é utilizado até hoje, porém com técnicas mais modernas. E com simbolismos ao invés de especificações.
Durabilidade: São resistentes a corrosão e não reagem com a maioria dos elementos químicos.
Portabilidade: Pequenas e leves quantidades para transações corriqueiras podem ser portados sem grandes problemas. Porém em quantidades maiores, o peso e o volume podem dificultar o seu transporte, principalmente na questão da segurança. Quantidades grandes de ouro chamam a atenção de ladões.
Escassez: A escassez do ouro e da prata é imposta pela natureza, ou seja, não é possível inflacioná-lo em grandes quantidades. Mesmo em pequenas quantidades é necessário uma quantidade considerável de esforço para ser minerado.
Como pode-se observar, os metais preciosos detém praticamente todas as características necessárias para se tornar uma moeda perfeita, exceto a portabilidade. Transportar ou mesmo possuir grandes quantidades de ouro implica em sérios riscos para a segurança.
A solução encontrada para se resolver o problema da portabilidade do ouro ou da prata, será discutida no próximo texto.
Vale ressalta aqui que a aceitação do ouro ou a prata como moeda de troca não foi imposta por nenhuma autoridade ou por votação. Os eventos foram acontecendo e os metais preciosos alcançaram esse status de maneira natural.
Então pelo que verificamos até aqui, uma mercadoria candidata à moeda corrente deve possuir algumas características que são necessárias ao seu sucesso no longo prazo, são elas: aceitação, divisibilidade, durabilidade, portabilidade e escassez.
Na antiguidade surgiram fortes candidatos a moedas correntes, os metais preciosos. Destacando-se o Ouro e a Prata. Dentre os dois metais, o Ouro é ainda mais valioso por ser ainda mais escasso que os demais e por sua beleza e maior durabilidade também.
Estes metais possem as características essenciais ditas anteriormente:
Aceitação: Eram utilizados em diversas aplicações, pois são muito maleáveis e bonitos. Muito usados na confecção de joias e adereços.
Divisibilidade: Pepitas de ouro ou prata podem ser divididas em quantidades menores sem perder o seu valor como um todo. Ou seja, 10 pedaços de 25 gramas têm no total o mesmo poder de troca que uma pequena barra de 250 gramas. Com o passar do tempo determinadas características que se queria ressaltar, como peso e pureza, eram escritos nos pedaços de ouro, por meio e de um processo chamado cunhagem, onde uma fôrma contendo as especificações era prensada na peça de ouro ou prata com pancadas de um martelo. O processo de cunhagem é utilizado até hoje, porém com técnicas mais modernas. E com simbolismos ao invés de especificações.
Durabilidade: São resistentes a corrosão e não reagem com a maioria dos elementos químicos.
Portabilidade: Pequenas e leves quantidades para transações corriqueiras podem ser portados sem grandes problemas. Porém em quantidades maiores, o peso e o volume podem dificultar o seu transporte, principalmente na questão da segurança. Quantidades grandes de ouro chamam a atenção de ladões.
Escassez: A escassez do ouro e da prata é imposta pela natureza, ou seja, não é possível inflacioná-lo em grandes quantidades. Mesmo em pequenas quantidades é necessário uma quantidade considerável de esforço para ser minerado.
Como pode-se observar, os metais preciosos detém praticamente todas as características necessárias para se tornar uma moeda perfeita, exceto a portabilidade. Transportar ou mesmo possuir grandes quantidades de ouro implica em sérios riscos para a segurança.
A solução encontrada para se resolver o problema da portabilidade do ouro ou da prata, será discutida no próximo texto.
Vale ressalta aqui que a aceitação do ouro ou a prata como moeda de troca não foi imposta por nenhuma autoridade ou por votação. Os eventos foram acontecendo e os metais preciosos alcançaram esse status de maneira natural.
Espero que tenham gostado do meu texto sobre o surgimento das primeiras moedas de troca. Você pode contribuir dando dicas ou sugestões.
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Até o próximo post!
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